terça-feira, 27 de março de 2012

Redescobrindo a ceia do Senhor.


Texto base: E, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que épartido por vós; fazei isto em memória de mim.” (1 Cor 11.24)
Se existe uma cerimônia emblemática para um cristão, esta é a Ceia do Senhor. Muito já se falou, e se polemizou sobre o assunto. Quantos cristãos já foram penalizados ou se penalizaram por não compreender o real significado deste momento essencial para a unidade cristã. E quantos mitos foram criados, atormentando os crentes em Jesus ao invés de edificá-los. No entanto, se fatos negativos aconteceram [e ainda acontecem] isto se deve apenas a um quesito, não examinar o que as escrituras falam sobre o assunto de forma sistemática. Não queremos com este artigo por um ponto final nesta discussão teológica, mas queremos expor o que a Palavra de Deus mostra sobre esta cerimônia cristã. Lembramos ainda que a expressão Ceia do Senhor foi utilizada pelo apostolo Paulo ao se dirigir a Igreja de Corintios(1 Corintios 11.20), ´portanto estaremos sempre utilizando-a no decorrer do texto, em detrimento de utilizar a expressão Santa Ceia do Senhor, como ficou conhecida no meio pentecostal. Destacamos ainda que esta cerimônia faz parte das duas ordenças de Cristo, o Batismo e a Ceia do Senhor, portanto é parte fundamental do culto cristão desde a Igreja primitiva até nossos dias, sendo essencial a participação de todos aqueles que nasceram de novo em Jesus Cristo.
  • A Ceia não é uma extensão da páscoa judaica
Como ponto inicial, abordaremos uma dúvida freqüente entre os cristãos, a Ceia é uma celebração da Páscoa? Sem dúvidas não! A Páscoa judaica foi instituída pelo Senhor Jeová como forma de lembrar o livramento que o Senhor concedeu ao povo de Israel, livrando-os da escravidão e da morte dos primogênitos no Egito, assim nos fala a Bíblia:“E acontecerá que, quando vossos filhos vos disserem: Que culto é este? Então direis: Este é o sacrifício da páscoa ao Senhor, que passou as casas dos filhos de Israel no Egito, quando feriu aos egípcios, e livrou as nossas casas. Então o povo inclinou-se, e adorou.” (Ex 12.26,27). Se fizéssemos a perigosa interpretação alegórica do texto teríamos sim uma continuação da páscoa judaica em nossa Ceia, contudo, ao fazermos uma análise sistemática dos textos referentes a páscoa judaica ( Êxodo12, Números 9 e Deuteronômio16) compreendemos que tal cerimônia era um símbolo do sacrifício de Cristo no calvário e era uma cerimônia exclusiva para o povo de Israel, pois assim determina o Senhor, através de Moisés: “Celebrem os filhos de Israel a páscoa a seu tempo determinado”. (Números 9.2). Neste contexto, este cerimonial estava restrito ao povo de Israel e simbolizava sua libertação do Egito e o livramento da morte de todo primogênito daquela nação. O apóstolo Paulo inspirado pelo Espírito Santo de Deus, nos ajuda na conclusão sobre esta temática, afirmando que “Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado. Por isso, celebremos a festa não com o velho fermento, nem com o fermento da maldade e da malícia e sim com os asmos da sinceridade e da verdade” (1 Coríntios 5:7-8). Com esta afirmação, concluímos que Cristo é a nossa páscoa e não a Ceia do Senhor.
  • Transubstanciação, uma questão histórica
Outro aspecto discutido é a doutrina da transubstanciação, defendida pela Igreja Católica romana. Mas, o que é transubstanciação? Segundo o historiador cristão Earle E. Cairns(2008, p.192) é a doutrina Católica que diz transformar o pão e o vinho em corpo e sangue de Cristo literais, após as palavras de consagração do sacerdote. Tal interpretação concede a igreja católica romana, através de seus sacerdotes, o poder de dar ou tirar o sacrifício de Cristo da vida do fiel, através do sacramento da missa. Quanto a esta doutrina não iremos nos prolongar em virtude de sua fragilidade, e por basear-se na tradição, que para o Vaticano tem o mesmo valor que a Bíblia. Contudo, vale ressaltar, que esta doutrina errônea foi instituída pela igreja Católica somente em 1215, no Quarto Concílio de Latrão, pelo papa Inocêncio III, que ficou conhecido por sua crueldade ao impor o cristianismo Católico romano, inclusive, liderando uma cruzada que exterminou os albigenses no sul da França em 1209. Estes cristãos integravam um grupo conhecido como cátaros, eram cristãos que baseavam sua crença apenas na Bíblia. Portanto, fica claro que tal doutrina surge como uma forma de coagir o povo medieval, pois “não é de surpreender que os homens da Idade Média temessem os clérigos como homens que tinham poder para dar ou retirar os sacramentos doadores da vida”(Carins, 2008, p.192), confirmando a doutrina agressiva instituída por Inocêncio III. Tal doutrina além de incoerente é historicamente forjada para atender anseios papais. Para maiores detalhes, quanto aos aspectos bíblicos, clique emTRANSUBSTANCIAÇÃO.
  • Retornando as Escrituras Sagradas
Com o advento da Reforma Protestante, em 1517, iniciou-se o processo intensivo de combate a doutrina da transubstanciação, juntamente com outros dogmas católicos, formando assim, as visões bíblicas sobre o que realmente significou a cerimônia da Ceia do Senhor ( 1 Cor 11). O primeiro ponto apresentado foi o de Martinho Lutero, seguindo por Zuínglio e João Calvino. Sendo, a visão calvinista a mais difundida no meio cristão protestante, pentecostal ou não, como afirma o teólogo pentecostal Michael L. Dusing (1996, p.577). Para a doutrina calvinista, a Ceia deveria ser comemorada como um memorial do que Cristo fez por nós e diferentemente da doutrina católica e em parte da Luterana, Cristo faz-se presente nesta cerimônia, não fisicamente no pão e no vinho, mas de forma espiritual. A nosso ver, tal postura mostra-se a mais coerente, tendo em vista que ao instituir a Ceia, o Senhor Jesus, disse que tal cerimônia deveria ser feita em sua memória (Lucas 22.19) e Paulo ensinando aos Coríntios repetiu esta afirmação (1 Coríntios 11. 24,25) e se Jesus nos prometeu que “[...] onde estiverem dois ou trêsreunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”(Marcos 18.16), não nos resta dúvidas que a sua presença estará também, e principalmente, na Ceia do Senhor. O professor de Teologia Kenneth J. Collins citando o pensamento de John Wesley afirma que a Ceia é “[...] uma lembrança continua da morte de Cristo por meio do comer o pão e do beber o vinho, os quais são sinais exteriores da graça interior, o corpo e o sangue de Cristo”(Collins apud Wesley, 2010, p.340), ou seja, para Wesley, assim como nós acreditamos, a presença de Cristo na Ceia, nos era transmitido pela graça interior, ou seja o Espírito Santo de Deus que habita em cada cristão(1 Coríntios3.16; 6.19).
  • A graça que vem da Ceia
Como citado anteriormente, não podemos inferir a Ceia o ato de transmitir ou concluir a graça da salvação, pois este ato foi realizado de forma definitiva e suficiente na cruz do Calvário (Hebreus 9.22, 25, 26, 27,28; 10.18). Contudo, acreditamos que esta cerimônia não se trata apenas e exclusivamente de um memorial, como pregava Zuinglio. Entendemos que ela nos transmite uma graça plena e abundante que é a união entre os irmãos(1 Coríntios 11.33), fortalece nossa fé, através da esperança de cear com Cristo novamente, tendo a certeza de Sua volta (Mateus 26.29; Lucas 22.12-30). Neste aspecto abrimos um parêntese para explicar o fato de atribuir curas divinas ao ato de participar da Ceia. De forma simples, sem maiores discussões teológicas, afirmamos que a Ceia fortalece nossa fé em Cristo, portanto torna-se momento ideal para que vejamos as manifestações de curas ou sinais da parte de Deus, acreditamos que tais manifestações ocorrem não apenas pelo ato de comer o pão e beber o vinho, mas sim pela intensa expectativa e esperança de encontra o Senhor Jesus, produzindo assim a fé e a esperança que salva o cristão(Romanos 8.24). Por fim, o ato mais sublime desta cerimônia, testificar a todos que Jesus entregou o Seu corpo e derramou o Seu sangue por mim e por todos quantos o receberam(João 1.11,12). Neste sentido, temos a convicção que a participação na Ceia do Senhor é dever, além de ser um prazer para todos os cristãos que verdadeiramente nasceram de novo.
Não obstante a tantos benefícios, o apóstolo Paulo nos prescreve alguns requisitos para participar desta cerimônia (1 Coríntios 11.26,27,28 e 33) , são eles:
1) Participar dela em atitude de reflexão, porque estamos proclamando que Cristo morreu por nós ( v.26);
2) Devemos participar de modo digno, com reverência e respeito devidos (v.27);
3) Devemos nos examinar antes de participar, ou seja, refletir sobre as razões que nos levaram a participar da ceia, se temos cometidos pecados contra nosso próximo ou contra o Senhor(v.28);
4) Devemos demonstrar nossa união, esperando sempre uns pelos outros (v.33)
(Adaptado, Bíblia de Estudo aplicação pessoal, p.1600, 2003)
A respeito do terceiro tópico, é importante ressaltar o fato de que muitos irmãos deixam de participar da Ceia por haverem cometido alguma falha no decorre dos dias. No entanto, compreendemos que o versículo 28 afirma que devemos nos examinar, ou seja, reconhecer nossos pecados, e conseqüentemente nos arrepender desta falha, e finalmente participar. Em nenhum momento Paulo incentivou aos coríntios a não participarem da Ceia, antes os orientou a fazê-lo com discernimento e reverência, mostrando a importância deste cerimonial para toda a cristandade.
Diante do exposto acima, concluímos com a idéia de que esta cerimônia é momento solene e que requer do cristão sinal de reverência pelo seu sublime significado, porém é extensivo a todos que fazem parte da Igreja do Senhor, estando intrinsecamente ligada ao ato do batismo em águas [falaremos posteriormente em outro artigo] que simboliza ao mundo a decisão de fazer parte do corpo de Cristo, de sua Igreja. Portanto de você não faz parte do sublime corpo de Cristo e ainda não participa desta cerimônia gloriosa, tome sua decisão, batize-se e cumpra esta ordenança do Mestre Jesus, desfrutando deste momento de intensa união da Igreja de Cristo, que é a Ceia do Senhor.

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